Vivência parda, levante e corpo negro

por Adilson Marcelino | Mon Jun 13 2022 20:30:48 GMT+0000 (Coordinated Universal Time)

Décadas de 1960 e 1970. Anos 1981, 1991, 2004 e 2017. Nascimento, infância e adolescência. Depois, datas de fundamental importância, verdadeiros marcos na vida de um homem homossexual, periférico e pardo, que precisou percorrer um caminho tortuoso para, enfim, reconhecer-se negro. Esse levante se deu no exercício diário de afirmação de identidade e de cidadania a partir do trabalho no campo da cultura, na militância social e LGBTTQIA+, e, mais especificamente, na reflexão cinematográfica, a partir da crítica e da pesquisa histórica. Esse texto busca refazer esse caminho, em que dores, espantos, descobertas e atos ultrajantes cometidos e vitimados formam um homem e reconfiguram um corpo. Brevíssimas sínteses históricas e citações das três mais destacadas atrizes negras brasileiras ajudam a contar essa história e a desenhar essa geografia. Ruth de Souza em Sinhá Moça (Tom Payne e Oswaldo Sampaio, 1953) “É impressionante, o tempo passa e as coisas não mudam. Você vê pessoas negras no cinema, na televisão, nos shoppings, nas butiques, nos restaurantes? Não. Na minha época da Vera Cruz era assim, era só eu, e hoje eu vou às festas, aos lançamentos, e as coisas não mudaram muito. Continua sendo só eu e algumas poucas. A mulher negra fica em segundo plano, somos invisíveis. Há pouco tempo, eu fui participar de um evento na Petrobras, e eu acho que eles não vão me convidar nunca mais (risos). O meu produtor me convidou para irmos até lá, mas não me avisou que eu ia participar de uma mesa-redonda. Foi no dia 8 de março, Dia da Mulher, e estavam lá a Júlia Lemmertz, a Dayer (Ludmila), a Dira Paes, a Lúcia Murat. Cada uma falando uma coisa sobre a mulher e eu fiquei pensando sobre o que eu ia falar, já que não tinha preparado nada. Até que chegou a minha vez e eu fui logo perguntando para a plateia: onde está a mulher negra no mercado? A sala estava lotada de funcionários, os diretores todos da Petrobras presentes. E eu perguntei onde estavam as mulheres negras nos escritórios, nas butiques. Que isso me revoltava muito, que não somos incapazes. E perguntei onde estavam elas naquela plateia? Daí todo mundo ficou quieto, e depois me aplaudiram muito. Daí veio uma das diretoras me dizer que havia uma negra em cargo de diretoria lá na Petrobras, mas eu retruquei dizendo que era uma, cadê as outras? Lá naquela plateia tinha umas quatro, assim no canto, e todas elas eram faxineiras. Isso me revolta muito.” (Ruth de Souza, maio de 2005) * A configuração de mestiçagem do povo brasileiro possibilita — e para muitos serve como álibi internalizado a fórceps em camadas do inconsciente — que muitas e muitos vivam, sobrevivam, transitem e morram sob o retrato 3x4 definidor de pardos. Ou morenos ou, ainda, mulatos. Para muitos dessas e desses, a identificação como negras e negros, por vários motivos, é escorraçada ainda mesmo na esfera do pensamento. Em outubro de 1986, às vésperas dos meus 23 anos, durante minha primeira passagem pelo trabalho no poder público - no qual permaneci até dezembro de 1991 -, racismo e colorismo sentaram-se à mesa já no segundo dia da primeira semana. A seção de trabalho era formada por cinco pessoas: quatro brancas e eu. Quando eu e uma colega branca também recém-ingressada fomos apresentados para um dos doutores da diretoria - engenheiros têm certeza que são sempre doutores -, ele não pestanejou. Dirigiu-se a ela, estendeu a mão, deu as boas-vindas e regressou para a sua sala, ignorando-me solenemente. O chefe do setor ficou vermelho, olhou para mim um tanto envergonhado e se desculpou pelo outro. Hoje, março de 2022, relembrando do fato para a escrita deste texto, reencontro-me em estado de brasa com aqueles verdes anos de autoafirmação da homossexualidade e da militância social. E foi nesses dois campos de batalha que minha vida de pardo, cor marcada na certidão de nascimento e em todos os formulários e censos preenchidos até então, sobretudo internalizada em mim, seguiu. Lá, a certeza era que o doutor me ignorou por ser viado e pobre periférico. Negro? Nem cheguei a pensar nessa hipótese, pois a questão inexistia para mim. Já, para ele, provavelmente era certeza. Sentado no meu “reinado” de pardo, não me via e nem me reconhecia naquele universo de negros com a pele mais preta que a minha, ainda que não protagonizasse mais episódios, em relação a eles, que se tornaram sulcos vergonhosos e mortais em minha biografia. Como aquele dia em que, quando adolescente, disse para o cunhado, negro como eu, mas de pele muito mais preta que a minha, que lugar de café era na cozinha. Ou, aos 22 anos, quando questionei se um pretendente da minha namorada, negro como eu, mas de pele muito mais preta que a minha, tinha ido à praia para queimar os dentes e a sola do pé. Zezé Motta em Xica da Silva (Cacá Diegues, 1976) “Pois é, eu considero o Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, fundado em 1984) como uma iluminação do astral. Quando as coisas deram certo para mim, eu olhei para o lado e perguntei: “Cadê todo mundo?”. E esse todo mundo dava para contar nos dedos. Quantos negros estavam em cena? Quantos negros estavam empregados, trabalhando em cinema, teatro e televisão? Tem alguma coisa errada. Cheguei à conclusão que nós não podíamos ficar esperando por uma atitude paternalista, de que alguém ia acordar e falar que temos que dar uma força para os atores negros. Cacá Diegues foi uma exceção, me perdoe se eu estou sendo injusta com mais alguém, mas é o que vem na minha mente. Porque foi uma experiência que vi, convivi e vivo com ela: só com o Cacá Diegues eu fiz cinco filmes. Então, quando eu vi que tinha um vazio ali, eu falei: “Nossa, já que as coisas estão dando certo pra mim eu tenho que colaborar com isso, eu tenho que fazer alguma coisa”. Daí que surgiu a ideia de catalogar os artistas negros, enfim, cobrar, denunciar, mostrar os caminhos, dar a visibilidade dos negros na mídia. Porque quando a gente falava sobre a invisibilidade dos artistas negros, nos respondiam assim: “A gente só conhece você, Zózimo Bulbul, Pitanga, Léa Garcia, Ruth de Souza, Chica Xavier, e citavam algumas poucas outras atrizes”. Aí eu falei: “Bom, nós não podemos ficar esperando, nós que temos que virar esse jogo para dar visibilidade para o artista negro”. Tive o privilégio de propor isso para um grupo de pessoas do Movimento Negro que toparam para que o Cidan desse essa visibilidade aos artistas negros.” (Zezé Motta - maio de 2021) * Chamados por muitos como a década perdida, com a crise econômica na América Latina, os anos 1980 normatizaram, de vez, o individualismo capitalista confesso como o senhor do tempo em oposição ao coletivo. No Brasil, em meados dela, a ditadura civil-militar foi oficialmente extinta, ainda que os viúvos do período tenham permanecido e o projeto genocida de Estado sobre as chamadas minorias tenha continuado implacável e a todo vapor. A chegada da década de 1990, por sua vez, no Brasil, com os abjetos anos do governo Fernando Collor de Mello, era puro rescaldo de todas essas questões e de acirramento da luta de classes. O ano de 1991 foi, no meu calendário pessoal, definidor e definitivo. Foi quando finquei minha bandeira de trabalho totalmente dedicada à cultura ao me tornar o primeiro bilheteiro do extinto Savassi Cineclube, em Belo Horizonte (MG). Continuei no mercado exibidor em duas fases que totalizaram 15 anos, período em que fui também gerente, assessor de imprensa, curador, assessor de comunicação e programador de dezoito salas em BH e em Brasília. 1991 também representa o marco de início da minha carreira jornalística, quando, mais precisamente em outubro, fiz estreia como crítico com uma coluna de cinema no jornal independente Folha Popular, em Contagem (MG). Já graduado em Letras, pela PUC-MG (1989), só fui fazer o curso de Jornalismo mais de uma década depois, na UNI-BH (2008), ainda que já estivesse atuando no campo em programas de TV e rádio, escrevendo matérias e artigos para publicações desde o início da década anterior. Além de crítico e colunista, iniciei também, na Folha Popular, o trabalho de pesquisador com a memória sobre as atrizes do cinema brasileiro, o que, a partir daí, configurou-se como um mapeamento histórico da participação das mulheres no nosso cinema - desde a fase silenciosa até a atual. Trabalho depois aprofundado e não somente voltado às atrizes, já que, com a fundação do meu site Mulheres do Cinema Brasileiro, em 12 de maio de 2004, passei a abarcar também cineastas e técnicas, como montadoras, produtoras, roteiristas, etc. Como se sabe, em 1991, a internet ainda não era acessível ao grande público no Brasil, o que começou a acontecer de fato somente no final da década. À época, a pesquisa para o ofício crítico se dava apenas em dois campos: assistindo aos filmes e se informando pelo jornal e outras publicações, como revistas e livros. Recortes específicos eram poucos, fossem sobre a produção negra, LGBTTQIA+ ou sobre o mapeamento das mulheres. Nesse segundo caso, existiam poucas publicações, todas fundamentais, como o Quase Catálogo 1 - Realizadoras de cinema no Brasil 1930/1988 (1989); Quase Catálogo 3 - Estrelas do Cinema Mudo Brasil 1908 - 1930 (1991); Dicionário de Cineastas Brasileiros (1990); Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro - Dicionário de atrizes e atores (1998). Por me identificar completamente com o padrão simbólico pardo, não havia em mim, nesses anos de 1980 e 1990, que compreendem não só a minha formação de cinéfilo, como também a de crítico e pesquisador, um olhar mais acurado sobre as questões da negritude nas expressões artísticas, a não ser na social. Então, é muito sintomático que isso esteja refletido, inclusive, na gênese do meu percurso na reflexão cinematográfica. A saber, na minha coluna de cinema no jornal impresso Folha Popular, publicada de outubro de 1991 a março de 1993, criei, já na segunda edição, uma seção de fotos-legendas em que homenageei 28 atrizes. Dessas, apenas uma era negra: Ruth de Souza. Essa alienação ao meu corpo negro e à expressão dele em mim, no outro e no mundo, seguiu-se ainda por muito tempo. Disse aqui que a estreia do registro do meu pensamento reflexivo sobre cinema, em diferentes mídias, deu-se em 1991, mas ainda não contei que a gênese disso tudo e, sobretudo, no meu trabalho de mapeamento com as mulheres, aconteceu em campo, na década anterior, ao assistir no cinema de rua em Belo Horizonte (MG), no Cine Palladium, ao trailer do filme Eros, o deus do amor (Walter Hugo Khouri, 1981). Ainda hoje, 40 anos depois, recordo nitidamente do assombro que foi ver todas aquelas mulheres reunidas. Grande parte daquelas atrizes era completamente desconhecida por mim, a não ser as que atuavam também em telenovelas, gênero folhetim a que assistia desde criança, e até hoje. Não à toa, Eros é, ainda hoje, o meu filme brasileiro predileto, ao lado de Terra em transe (Glauber Rocha, 1966). E se ali, no trailer do filme, deu-se o estopim para o interesse em aprofundar a minha pesquisa e o meu conhecimento sobre o cinema brasileiro e sobre as atrizes, a questão da negritude começou a se configurar, ainda que timidamente, no meu imaginário artístico a partir desse ponto de partida - já que, nele, as atrizes, quase em sua totalidade, são brancas. Até então, esse meu imaginário negro era mais restrito, povoado por nomes - falando apenas do cinema e da televisão - como Grande Otelo, desde e para sempre o maior ator brasileiro, ou Ruth de Souza, que já compunha o trio de ouro formado com Léa Garcia e Zezé Motta, três das mais importantes atrizes brasileiras e as destacadas da cultura negra, além de algumas outras pessoas. Léa Garcia em Orfeu Negro (Marcel Camus, 1959) [Abaixo, Léa Garcia responde à questão abordando se, desde o TEN, o Teatro Experimental do Negro, na década de 1950, modificou-se muito a questão dos artistas negros nos veículos.] “Não, o que aconteceu foi que houve uma penetração maior. Foi muito bom porque as pessoas que abriram as portas estão vendo que tudo que passaram, com todas as dificuldades, que isso tudo foi muito bom porque essa penetração agora de vários atores, vários jovens que estão surgindo, isso é muito importante. Que nós temos realmente que ocupar esses espaços, se nós quisermos realmente produzir trabalhos que nos dizem realmente respeito, nós temos que ocupar todos os cargos, direção, produção, não só como ator, porque se ficar só como ator você não consegue nada. Você tem que estar nos postos de direção, de produção, câmera, edição, para você chegar realmente a ter um lugar ao sol.” (Léa Garcia - novembro de 2004) * Os anos 2000, com os governos Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2011), fizeram, enfim, parecer que o Brasil, esse vocacionado rascunho de nação, começava a tomar rumo. Ou melhor, a finalmente traçar um caminho. Como se sabe, as mudanças pareciam profundas, exemplificadas pelo pagamento da dívida externa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), a retirada do país do Mapa da Fome, a ascensão das classes C, D e E, entre outros feitos. Nos anos 2010, o Brasil viu, pela primeira vez, uma mulher ocupando o posto político máximo com a eleição de Dilma Rousseff. Tempo de renovada esperança das conquistas do governo anterior, com a promulgação da Lei de Cotas nas universidades, mas ceifado pelo golpe e sua destituição do poder, em 2016. Essa ausência de uma reflexão negra me acompanhou mesmo no início dos anos 2000, ainda que fosse continuamente impactado, seja pelos trabalhos de Zózimo Bulbul e Joel Zito Araújo. Prova disso é que, junto à importante, e indesviável, crítica, pesquisadora e escritora Andrea Ormond, do blog Estranho Encontro, e já na era internet, éramos um dos poucos a nos debruçarmos sobre a obra de Adélia Sampaio, a primeira cineasta negra - ainda que, vira e mexe, aparecem “novos descobridores e descobridoras” de Adélia Sampaio a cada dia. Ela, Andrea, em abril de 2007, com a crítica sobre o filme Amor maldito (1983), e eu em longa entrevista com a cineasta para o meu site Mulheres do Cinema Brasileiro, em agosto de 2007. Tenho orgulho dessa entrevista que realizei, na qual ela revisita sua carreira. Mas, mesmo ali, a negritude não foi uma questão em cerne. Nem para ela, nem para mim. Voltemos às décadas de 1980 e 1990. Foram períodos em que, provavelmente, comecei a conhecer mais filmes que abordavam ou se situavam no universo da negritude, fossem dirigidos por brancos, como o sucesso Xica da Silva (Cacá Diegues, 1976) e A Rainha Diaba (Antonio Carlos Fontoura, 1971), ou por negros, como As aventuras amorosas de um padeiro - Adultério à brasileira (Waldyr Onofre, 1975) e Alma no olho (Zózimo Bulbul, 1976). Mais para a frente, assistiria a outros filmes igualmente indesviáveis, fossem dirigidos por brancos, como Compasso de espera (Antunes Filho, 1969/73), ou por negros, como Na boca do mundo (Antonio Pitanga, 1978), A longa noite do prazer (Afrânio Vital, 1983), Abolição (Zózimo Bulbul, 1988) e o próprio longa de Adélia Sampaio, Amor maldito (1983). Foi no final da década de 2000, portanto, recente, que se deu um levante em minha vida sobre a questão da negritude, em me assumir negro e ao meu corpo negro, fruto exatamente dessa pesquisa para o meu site. Da constatação da invisibilidade de muitas mulheres negras e da minha relação existencial frente a isso. E foi em 2017 que, aí sim, pude identificar de imediato o ataque racista, quase em uma reedição do que aconteceu no ambiente de trabalho em 1986, quando, novamente, um colega que só havia falado comigo por telefone me olhou de cima a baixo, e proferiu: “Mas é você? E eu que te imaginava alto e loiro!”, irrompendo em gargalhadas. Milton Gonçalves em A Rainha Diaba (Antonio Carlos da Fontoura, 1974) Dos anos 2010 para cá, esse levante do meu corpo negro me direcionou para novos olhares e novas reconfigurações de mundo e das pessoas nele, seja no trabalho, nas relações pessoais, na escrita. Para ficarmos nesta última, verdadeira razão de ser deste texto, propus-me novas rotas de pesquisa, aprofundei-me um pouco mais no meu conhecimento sobre cinema negro, escrevi artigos, protagonizei sessões comentadas, apresentei lives sobre o assunto, prefaciei livro, entrevistei mais mulheres negras - ainda faltam muitas -, e questionei mais o assunto. Sobretudo, como os corpos negros estão inseridos nos filmes e como se dão as reverberações disso no cinema contemporâneo. Esse novo caminhar, de pardo para negro, coloca-nos também cara a cara com atitudes que, até então, não eram percebidas em sua terrível venalidade. Exemplos? Nunca ter sido convidado para participar de mesas ou de curadorias para festivais, exceto para que os brancos realizadores ficassem “bem na fita” convidando um negro para o seu evento descolado sobre cinema preto. Isso aconteceu no primeiro convite para curadoria de um importante festival - que recusei. Ou mesmo, quando o convite vinha, geralmente se referia a uma participação gratuita, ou seja, distribuindo de graça para a plateia dos brancos o conhecimento que precisou, como no meu caso, de décadas para que se configurasse. Lógico que recebi e aceitei participar de algumas iniciativas gratuitas de brancos por identificar, nesses casos, um real respeito à minha trajetória de reflexão cinematográfica. E também já participei de mostras organizadas por brancos que respeito e que remuneraram meu trabalho. No entanto, raramente aceito convites, seja para escrever artigos, apresentar livros ou participar de lives sobre cinema negro, ou mesmo no geral, pelos motivos aqui elencados. E ainda que eles nem sejam muitos, é preciso dizer. Atualmente, as discussões sobre a questão negra fervem, assim como os crescentes ataques racistas, sobretudo pela proliferação do facismo no país. No atual governo do inominável e de seus seguidores tão fascistas quanto, atos impensáveis, como a defesa oficial da tortura e a apologia ao estupro, assim como tratamento aos negros em termos ofensivos, como “arroba”, tornaram-se práticas oficiais e moeda comum na ordem do dia. Nesses mesmos anos de horror real, a reflexão e a escrita crítica sobre o cinema negro, ou mesmo de negros e negras sobre o cinema em geral, estão muito atuantes e apontando caminhos de entendimento de lastro e de ressignificações. Ainda assim, é importante ressaltar que viver financeiramente de reflexão crítica é para poucos e poucas. E, dentre esses, brancos e brancas e negros e negras estão, na maioria das vezes, em patamares bem distintos. No meu caso, esse exercício reflexivo só é possível porque tenho trabalho formal que, ainda que seja no campo da comunicação e da cultura, não é o da crítica. Ela e a minha pesquisa são exercidas por militância, amor ao cinema brasileiro e à sua memória, e com recursos próprios. Ainda assim, com cada um se virando como pode, a crítica cinematográfica negra é exercida por nomes de altíssimo quilate, como Heitor Augusto, Janaína Oliveira, Tatiana Carvalho Costa, Juliano Gomes, Gabriel Araújo, Yasmine Evaristo, Lorenna Rocha, e outras e outros. Ótimas, provocadoras e estimulantes companhias. Citações e referências: Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro, Antonio Leão da Silva Neto - São Paulo: A.L. da Silva Neto, 1998. Dicionário de Cineastas Brasileiros, Luiz Felipe Miranda, Art Editora, 1990. Entrevista de Ruth de Souza, Zezé Motta e Léa Garcia ao site Mulheres do Cinema Brasileiro (2004, 2005 e 2021) - acessadas em 12 de março de 2022. Estranho Encontro, blog de Andrea Ormond: http://estranhoencontro.blogspot.com/ Quase Catálogo 1 - Realizadoras de Cinema no Brasil: (1930/1988), Heloísa Buarque de Hollanda (org), Ana Rita de Mendonça e Ana Pessoa (coords. e pesquisa), CIEC, 1989. Quase Catálogo 3 - Estrelas do Cinema Mudo Brasil 1908 - 1930, Heloísa Buarque de Hollanda (org.), Maria Fernanda Bicalho e Patrícia Moran (coordenação e pesquisa), CIEC, Escola de Comunicação, UFRJ, 1991.

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