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PRÁTICAS CRÍTICAS DO PENSAMENTO NEGRO

A ampliação das produções fílmicas e da ocupação de profissionais negros em diversas posições na cadeia audiovisual demandam certa reformulação nas formas de olhar, sentir e pensar acerca das criações artísticas negras. A multiplicidade dos discursos, entendimentos, projetos políticos e proposições formais que circundam e compõem a categorização “cinema negro brasileiro” nos anima a propor investigações que façam vibrar as diferenças, disputas e complexidades desse campo. A profusão de debates contemporâneos sobre o cinema ligados às questões de raça, gênero, classe, sexualidade e identidades, somada à intensificação da realização e difusão de obras assinadas por grupos sociais historicamente minoritários no campo cinematográfico, gera um sentimento de “urgência” nos modos de leitura das obras e de sua relação com o mundo. A ideia de novidade e de presentismos produz o risco de tornar a-histórico os estudos acerca das imagens, sons e filmografias pretas, o que pode resultar em uma desconexão com os repertórios imagéticos, sônicos, estéticos e políticos das temporalidades do passado e do futuro. Tecer pensamentos críticos e historiográficos acerca do cinema negro brasileiro aparece como possibilidade de nos posicionarmos na contramão da forma como temos nos relacionado com as imagens e sons. Reanimar arquivos e documentos aguça-nos a trafegar pelas memórias, criações e repertórios daquelas que vieram antes, a mergulhar em suas contradições nas maneiras de elaborar, produzir, idealizar e narrar acerca do cinema negro, e nos convoca a rastrear as tensões, discordâncias e ecos que esses materiais fazem acender dentro da história e do fazer cinematográfico brasileiro. Nesse sentido, o seminário Práticas Críticas do Pensamento Negro deseja se aproximar das complexidades, ambivalências e tensões que circundam as imagens, sons e historiografias do cinema negro brasileiro e da crítica cinematográfica, de modo a adensar os estudos sobre os campos e seus desdobramentos no contexto nacional. Para a primeira edição, críticas, críticos, pesquisadoras, pesquisadores e artistas foram convidadas a compartilhar reflexões a partir das imagens, narrativas historiográficas e discursos acerca do cinema negro no Brasil, além de investigar a crítica cinematográfica e as concepções que definem, incluem, excluem ou limitam o que chamamos de “cinema negro brasileiro”. Realizado pela INDETERMINAÇÕES - plataforma de crítica e cinema negro brasileiro, com patrocínio do BDMG Cultural e apoio cultural do Goethe-Institut São Paulo e da Embaixada dos Estados Unidos em Belo Horizonte, o Práticas Críticas do Pensamento Negro tem o interesse de construir espaços públicos de discussão onde possamos ensaiar outras possibilidades de nos relacionarmos com as matérias do cinema negro e brasileiro e com o exercício da crítica cinematográfica, a partir dos saberes tracejados por pessoas negras e não-brancas. Leia abaixo a programação completa e conheça as participantes de cada uma das mesas. As conversas serão transmitidas on-line e gratuitamente por meio do canal do YouTube. Mas você também pode colaborar ativamente para a discussão, participando desses encontros por meio da plataforma Zoom. As pessoas inscritas receberão certificado, mediante participação de, no mínimo, 70% das atividades.

MESAS

Crítica negra como método

Investigar as matérias dos cinemas negros

Dogma Feijoada e Manifesto do Recife - 20 anos depois

“Se precisamos nos ver, que seja em espelhos, não em telas de cinema”: uma conversa com Michael B. Gillespie

Crítica negra como método

Como a crítica produzida a partir dos pensamentos negros e não-brancos pode reelaborar (e recriar) narrativas históricas sobre o cinema (e outras artes) e produzir diferentes chaves de leitura para as produções artísticas do presente? Como fazer da crítica [negra] um exercício de não-dispersão, uma vez que a continuidade dessa prática possibilitaria a criação de memórias sobre as produções negras e a reformulação das disputas políticas que estão imbricadas ao campo cinematográfico (e artístico) brasileiro?

Kênia Freitas

Kênia Freitas é professora, crítica e curadora de cinema, com pesquisa sobre Afrofuturismo e Cinema Negro. Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Fez estágios de pós-doutorado (Capes/PNPD) no programa de Pós-Graduação em Comunicação na UCB (2015-2018) e no programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unesp (2018-2020). Desde 2015, realiza a curadoria de diversas mostras e festivais de cinema. Faz palestras, ministra oficinas e minicursos sobre Cinema Negro Especulativo e Crítica de cinema. Escreve críticas para o site Multiplot! desde 2012. Integra o FICINE - Forúm Itinerante de Cinema Negro.

Guilherme Diniz

Guilherme Diniz é pesquisador e crítico teatral. Licenciado em Teatro pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA/UFMG) e mestrando em Literatura Brasileira pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (FALE/UFMG). Colaborador no site Horizonte da Cena. Já realizou coberturas críticas para distintas mostras e festivais de teatro do país, como Janela de Dramaturgia (BH), Segunda Black (RJ) e Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (SP). É um dos produtores e consultores do Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de BH.

Investigar as matérias dos cinemas negros

Como lidar com As Aventuras Amorosas de um Padeiro (1975), de Waldir Onofre, Amor Maldito (1984), de Adélia Sampaio, e Compasso de Espera (1973), de Antunes Filho? É possível construir um arranjo para colocá-los em diálogo? Como poderíamos, hoje, retomar as discussões suscitadas por um filme como Na boca do mundo (1979), do Antônio Pitanga? De que modo podemos olhar para a produção da diretora Danddara no início dos anos 2000? Como elaborar narrativas historiográficas do cinema brasileiro a partir das criações artísticas de atores, atrizes e demais profissionais negros do audiovisual? Quais deslocamentos temporais, metodológicos, políticos e estéticos essas matérias produzem?

Mariana Queen Nwabasili

Mariana Queen Nwabasili é jornalista e pesquisadora, doutoranda e mestra em Meios e Processos Audiovisuais pela USP, onde também se graduou em Jornalismo. Pesquisa representações e recepções vinculadas a gênero, raça, classe e colonialidade no audiovisual, sobretudo no cinema brasileiro. Entre 2020 e 2022, como bolsista do Projeto Paradiso, realizou o Máster em Curadoria Cinematográfica da Elías Querejeta Zine Eskola, na Espanha. Atua como crítica teatral e, em 2021, participou da 10ª edição do Critics Academy do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça.

Fabio Rodrigues Filho

Fabio Rodrigues Filho trabalha na crítica, realização, programação e pesquisa em cinema. Doutorando em Comunicação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é mestre pela mesma Universidade e graduado na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). É membro dos grupos Poéticas da Experiência e Áfricas nas Artes. Realizador dos filmes “Tudo que é apertado rasga” (2019) e "Não vim no mundo para ser pedra" (2022). Trabalha também como cartazista de cinema. Escreve para revistas, catálogos e no blog pessoal Tocar o Cinema. É um dos coordenadores do Fluxo-Fixo, festival de filmes independentes.

Dogma Feijoada e Manifesto do Recife - 20 anos depois

Uma leitura pública e comentada do Dogma Feijoada (2000) e Manifesto do Recife (2001), documentos assinados por diretores, diretoras, atrizes, atores, produtores e demais profissionais negros no início dos anos 2000, que são registros das primeiras tentativas de coletivização do cinema negro no Brasil. Quais perguntas podemos lançar a esses escritos? Como eles impactam (ou não) na construção da ideia de cinema negro e nas produções artísticas negras no campo cinematográfico? Após 20 anos, como olhar para as implicações e consequências desses documentos, aproximando-os dos debates contemporâneos acerca do cinema negro brasileiro?

Bernardo Oliveira

Bernardo Oliveira é professor da Faculdade de Educação/UFRJ, pesquisador, crítico de música e cinema e produtor. Participa como colaborador do projeto de extensão GEM — Grupo de Educação Multimídia (Letras/UFRJ), do LISE — Laboratório do Imaginário Social e Educação (Educação/UFRJ) e do NFC — Núcleo de Filosofias da Diferença (IFCS/UFRJ). Como crítico de música e ensaísta, colaborou com diversos jornais, blogs, revistas e festivais do Brasil e do exterior. Em dezembro de 2014, publicou o livro "Tom Zé — Estudando o Samba" (Editora Cobogó). Em novembro de 2021 publicou "Deixa queimar" (Editora Numa).

Letícia Bispo

Letícia Bispo é mestranda na linha de pesquisa Pragmáticas da Imagem, no PPGCOM/UFMG. Formada em Audiovisual na Universidade de Brasília (UnB). Crítica, pesquisadora e curadora na área de cinema e audiovisual. Uma das fundadoras, editoras e curadoras do Verberenas. Foi curadora no Rastro - festival de cinema documentário (2020; 2021) e fez parte da Comissão de Seleção Internacional do 22º FestCurtasBH (2020). Compõe o Núcleo Técnico de Audiovisual da Faculdade de Comunicação, na UnB.

Diego Araúja

Diego Araúja é artista natural de Salvador (Bahia, Brasil) onde vive e trabalha. Com 10 anos de carreira artística, é bacharel em artes cênicas pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Suas mídias são literárias, visuais, cênicas, performáticas e audiovisuais; nas funções de diretor, cenógrafo, artista visual, dramaturgo, roteirista e escritor. Dirige o processo Tempo Crioulo desde 2015. O artista considera a linguagem como fator primeiro de traumas e sua continuidade; o Tempo Crioulo seria instaurar tempos qualitativos para a produção de linguagens emancipadas do trauma.

“Se precisamos nos ver, que seja em espelhos, não em telas de cinema”: uma conversa com Michael B. Gillespie

Em Film Blackness: American Cinema and the idea of Black Film (2016), o professor e pesquisador Michael B. Gillespie propõe uma reelaboração nos modos de investigar as narrativas visuais, sônicas e historiográficas dos filmes pretos. Ao considerar a ideia de raça como uma ficção cultural, o autor questiona as demandas representacionais e sociais atreladas às produções pretas, reivindicando-as enquanto proposições formais e artísticas que não devem estar limitadas a um espelhamento da experiência negra no mundo. Em conversa com os curadores da INDETERMINAÇÕES, Michael B. Gillespie irá introduzir a ideia de film blackness (pretitude fílmica) ao público brasileiro e compartilhar um pouco sobre seus estudos de mídia e filmes pretos.

Michael B. Gillespie

Michael B. Gillespie é professor de cinema na City College of New York e no Graduate Center, CUNY. Sua pesquisa e produção é focada nas visualidades negras, teoria fílmica, historiografia visual, música popular e arte contemporânea. Ele é autor de Film Blackness: American Cinema and the Idea of Black Film (Duke University Press, 2016) e coeditor do Black One Shot, série de crítica de arte publicada no ASAP journal. Seus textos mais recentes podem ser lidos na Film Quarterly, The Criterion Collection, Film Comment, and Ends of Cinema. Atualmente trabalha no livro The Case of the 3 Sided Dream, em desenvolvimento.

Agradecimentos:

Adriano Garrett, Allan da Rosa, Ana Júlia Silvino, Amanda Lira, Andreza dos Anjos, Ana Siqueira, Bernardo Oliveira, BDMG Cultural, Cineclube Mocambo, CineFestivais, Coletivo Zanza, Daniele Ávila Small, Débora Pill, Diego Araúja, Egberto Santana, Fábio Andrade, Fabio Rodrigues Filho, Fernanda Lomba, Francisco Grynberg, Goethe Institut-São Paulo, Gabriel Coêlho, Guilherme Diniz, Heitor Augusto, Hélio Menezes, Instituto Nicho54, Jacson Dias, Janaína Oliveira, Juliano Gomes, Kênia Freitas, Kennyo Severa, Laís Machado, Leda Maria Martins, Lina B, Luís Fernando Moura, Mariana Queen Nwabasilli, Márcia Maria Cruz, Márcio Andrade, Michael B. Gillespie, Podcast Cinema em Transe, Rebeca Cavalcanti, Renan Eduardo, Rodrigo Sarmento Sá, Soraya Martins e Tatiana Carvalho Costa.